Colecção “VERDADES
ETERNAS”
O Amor de Deus pela Humanidade
Deus criou o homem perfeitamente santo e feliz; e a formosa Terra, ao
sair das mãos do Criador, não apresentava o menor vestígio de
corrupção nem a mais ligeira sombra de maldição. Foi a
desobediência à lei de Deus – à lei do amor – que trouxe a
miséria e a morte. Não obstante, no próprio seio dos sofrimentos
que resultam do pecado revela-se ainda o amor de Deus. Está escrito
que Deus amaldiçoou a terra por causa do homem (Génesis 3:17). Mas
os espinhos e cardos – as dificuldades e provações que fazem da
vida um longo calvário – foram-nos enviados para nosso bem; entram
no plano de Deus como meio de sairmos do estado de degradação e
ruína em que o pecado nos mergulhou. De resto, no mundo nem tudo são
tristezas e sofrimentos. A própria natureza envia mensagens de
esperança e conforto. Brotam flores sobre os cardos e desabrocham
rosas sobre os espinhos
O Amor de Deus pela Humanidade
«Deus é amor». Esta palavra lê-se em cada botão de flor e em
cada haste de erva. Os buliçosos passarinhos que alvorotam os ares
com os seus alegres trinos; as flores de delicados e variados
matizes, que embalsamam a atmosfera com o seu doce perfume; as
gigantescas árvores da floresta com a sua luxuriante ramagem de um
verde vivo, – tudo nos fala da terna e paternal solcitude do nosso
Deus, e do Seu desejo de fazer a felicidade dos Seus filhos.
No céu e na terra, Deus deixou-nos testemunhas inumeráveis da Sua
bondade. Por intermédio da natureza e por provas de um amor mais
terno e mais profundo do que o coração humano pode conceber,
esforçou-se por Se revelar a nós. Mas tudo isso ainda não é senão
um reflexo bem pálido do Seu carácter. E, apesar de tudo, o inimigo
do bem cegou a tal ponto o espírito dos homens, que olham para Deus
com temor e consideram-n’O como um ser inexorável. Satanás faz
passar o nosso Pai celeste por um ser de uma injustiça inflexível,
por um juiz severo e por um credor exigente e cruel. Ele pinta o
Criador como um ser que espia os homens, procurando descobrir os seus
pecados e erros, a fim de os ferir com os Seus juízos.
Foi para dissipar esse véu de trevas, revelando ao mundo o infinito
amor de Deus, que Jesus baixou para viver entre os homens
O Filho de Deus veio do céu para revelar o Pai.
Descrevendo a Sua missão terrestre, Jesus disse: «O Espírito do
Senhor é sobre mim, pois me ungiu para evangelizar os pobres,
enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar a
liberdade aos cativos e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os
oprimidos.» (Lucas 4:18-19). Tal era a Sua obra. Ia de lugar em
lugar, fazendo o bem e curando os oprimidos por Satanás. Havia
aldeias inteiras em que se não via mais casa alguma onde se ouvissem
lamentos de enfermo, porque Jesus por elas passara e curara os seus
doentes. A Sua obra testemunhava que era o Ungido de Deus. O amor, a
misericórdia e a compaixão revelavam-se em cada acto da Sua vida. O
Seu coração transbordava de terna simpatia pelos filhos dos homens.
Revestira-Se da natureza humana para poder atingir as necessidades do
homem. Os mais pobres e humildes não receavam aproximar-se. As
próprias criancinhas sentiam-se atraídas para Ele. Gostavam de
trepar para os Seus joelhos e fixar os olhos no Seu rosto bondoso e
pensativo.
Jesus nada suprimia à verdade, mas dizia-a sempre com caridade. O
Seu convívio com o povo era caracterizado por um tacto perfeito, por
uma insinuante delicadeza. Nunca se viam n’Ele modos bruscos;
jamais pronunciava desnecessariamente uma palavra severa, nem
motivava dores desnecessárias a uma alma sensível. Não censurava a
fraqueza humana. Dizia a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a
hipocrisia, a incredulidade e a injustiça; mas nessa altura as
lágrimas embargavam-Lhe a voz. Chorou sobre Jerusalém, a cidade
amada que recusava recebê-l’O, a Ele, que era o Caminho, a Verdade
e a Vida. Havia rejeitado o seu Salvador, mas Ele continuava a
quererê-la com ternura e compaixão. A Sua vida era feita de
abnegação e de solicitude pelos outros. Toda a alma era preciosa
aos Seus olhos. Sem que nunca Se deixasse de conduzir com dignidade
divina, inclinava-Se, com a mais terna simpatia, sobre cada membro da
família de Deus. Via em todos os homens almas caídas, cuja salvação
constituía o objecto da Sua missão.
Tal é o carácter de Cristo, revelado na Sua vida. Tal é o carácter
de Deus. É do coração do Pai que as torrentes da compaixão
divina, manifestada em Cristo, dimanam para os filhos dos homens.
Jesus, o terno e compassivo Salvador, era Deus manifestado em carne
(I Timóteo 3:16).
Foi para nos remir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Tornou-Se um
“Varão de dores”, a fim de nos fazer participantes das alegrias
eternas. Deus permitiu que o Seu Filho amado, cheio de graça e de
verdade, deixasse a mansão de inefável glória, para vir a um mundo
manchado e corrupto pelo pecado e obscurecido pela sombra da maldição
e da morte. «O castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas
suas pisaduras fomos sarados» (Isaías 53:5). Contemplai-O no
deserto, no Getsémani, sobre a cruz! O Imaculado Filho de Deus tomou
sobre Si o fardo dos nossos pecados! Ele,que fora um com Deus, sentiu
na alma a terrível separação que o pecado cava entre Deus e o
homem, separação que arrancou dos Seus lábios este grito de
angústia: «Meu Deus, meu Deus, porque me desamaparaste?» (Mateus
27:46). Foi o peso do pecado e o sentimento da sua terrível
enormidade, que quebrantaram o coração do Filho de Deus.
Mas este grande sacrifício não foi consumado a fim de fazer nascer
no coração do Pai sentimentos de amor para com o homem, a fim de O
dispor a salvá-lo. Não, não! «Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigénito» (João 3:16). O Pai ama-nos, mas não
em virtude da grande propiciação; justamente porque nos ama é que
nos deu esta propiciação. Cristo foi o instrumento pelo qual o Pai
pôde derramar o Seu infinito amor sobre o mundo caído.
Ele o deu, não só para viver entre os homens, tomar sobre Si os
seus pecados, e morrer em seu lugar; Cristo devia solidarizar-se com
as necessidades e interesses da humanidade. Ele, que era um com o
Pai, uniu-se aos filhos dos homens por laços indissolúveis. Jesus
«não se envergonha de nos chamar irmãos» (Hebreus 2:11). Ele é a
nossa Propiciação, o nosso Advogado, o nosso Irmão,
apresentando-Se revestido com a forma humana perante o trono do Pai,
e será durante toda a eternidade um com a raça humana que Ele – o
Filho do homem –resgatou. E tudo isto, a fim de que o homem pudesse
ser erguido da ruína e degradação do pecado, a fim de o pôr em
condições de reflectir o amor de Deus e de participar do gozo da
eternidade.
O preço pago pela nossa redenção, o sacrifício infinito do nosso
Pai celeste entregando o Seu Filho para morrer por nós, deveria
inspirar-nos uma alta ideia do que podemos tornar-nos por meio de
Cristo. Depois de o inspirado apóstolo João haver contemplado a
altura, a profundidade e a amplidão do amor do Pai para com a
humanidade perdida, foi possuído de sentimentos de adoração e
reverência; e, não podendo encontrar linguagem apropriada para
exprimir a intensidade e ternura desse amor, exclamou: «Vede quão
grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados
filhos de Deus» (I João 3:1). Que alta valia esse amor deu ao
homem! Pela transgressão, os filhos de Adão tornaram-se sujeitos a
Satanás. Pela fé no sacrifício expiatório de Cristo, eles podem
voltar a ser filhos de Deus. Assumindo a natureza humana, Cristo
elevou a humanidade. Os homens caídos são colocados numa posição
em que, mediante a união com Cristo, podem, na verdade, tornar-se
dignos do nome de filhos de Deus.
Filhos do Rei celeste! Preciosa promessa! Tema inesgotável de
meditação! O amor insondável de Deus por um mundo que não O amou!
Tal amor é sem exemplo. A sua contemplação subjuga a alma e torna
os pensamentos cativos da vontade de Deus. Quanto mais estudamos o
carácter divino à luz que vem da cruz, tanto mais descobrimos nele
a clemência e a ternura, tanto melhor vemos a misericórdia unida à
equidade e à justiça, e tanto maior discernimos as inumeráveis
provas de um amor que é infinito, e de uma compaixão que sobrepuja
o amor ardente da mais terna mãe pelo seu filho extraviado
A necessidade de um Redentor
O homem foi de início dotado de faculadades nobres e de um espírito
bem equilibrado. Era fisicamente perfeito e moralmente em harmonia
com Deus. Os seus pensamentos eram puros, santas as suas aspirações.
Mas pela desobediência as suas faculdades perverteram-se e o egoísmo
substituiu o amor. Fez-se cativo de Satanás, e assim teria
permanecido para sempre se Deus não tivesse intervido de modo
especial. O fim do tentador era frustrar o plano divino ao criar o
homem e cobrir a terra de miséria e desolação. E todo este mal ele
apontava como consequência da criação do homem por Deus.
No seu estado de inocência o homem vivia numa feliz comunhão com
Aquele «em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
da ciência» (Colossenses 2:3). Mas depois do pecado, não podendo
já encontrar prazer na santidade, procurou esconder-se da presença
de Deus. Tal é ainda hoje o estado do coração não convertido. Não
bate em uníssono com o coração de Deus e não encontra prazer
algum na Sua comunhão. O pecador não poderia sentir-se feliz na
presença de Deus; o contacto com os santos seres tornar-se-lhe-ia ,
pelo contrário, intolerável. Se lhe fosse permitido entrar no Céu,
este nenhum gozo lhe proporcionaria. O espírito de desinteressado
amor que ali reina – onde cada coração reflecte o Infinito Amor –
não encontraria eco na sua alma. Os seus pensamentos, interesses e
desígnios estariam em oposição com os de todos aqueles que ali
habitam. Ele seria para ele uma nota discordante na melodia do Céu.
O Céu seria para ele um lugar de tortura. O seu único pensamento
seria ocultar-se d’Aquele que ali é luz e centro de todas as
alegrias. Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que exclui
do Céu os ímpios; estes são exc luídos pela sua própria
incapacidade para gozar da companhia dos seus habitantes. A glória
de Deus seria para eles um fogo devorador. Acolheriam com júbilo a
destruição para furtar-se à presença d’Aquele que morreu para
os resgatar.
É-nos impossível, por nós mesmos, sair do abismo de pecado em que
estamos mergulhados. Os nossos corações são maus e não os podemos
transformar. «Quem do imundo tira o puro? Ninguém.» «A inclinação
da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de
Deus, nem, em verdade, o pode ser.» (João 14:4; Romanos 8:7). A
educação, a cultura, o exercício da vontade, os esforços humanos,
tudo tem a sua legítima esfera de acção, mas, neste caso, são
impotentes. Poderão levar a um procedimento exteriormente correcto,
mas não podem mudar o coração; são incapazes de purificar os
mananciais da vida. Para conduzir os homens do estado de pecado ao de
santidade é preciso um poder que opere interiormente, uma nova vida
que proceda do alto. Esse poder é Cristo. Apenas a Sua graça é que
pode vivificar as faculadades inertes da alma, e atraí-las para
Deus, para a santidade. Disse o Salvador: «Aquele que não nascer de
novo» – que não receber um coração novo e aspirações novas,
que o conduzam a uma vida nova – «não pode ver o reino de Deus.»
(João 3:3). A ideia de que basta desenvolver o bem, que por natureza
existe no homem, é um erro fatal. «O homem natural não compreende
as coisas do Espírito de Deus, porque elas se discernem
espiritualmente.» «Não te maravilhes de te ter dito: Necessário
vos é nascer de novo.» (I Coríntios 2:14; João 3:7) Acerca de
Cristo a Escritura diz: «Nele estava a vida e a vida era a luz dos
homens.» «E nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual
devemos ser salvos.» (João 1:4; Actos 4:12).
Não basta entrever a bondade de Deus, a Sua benevolência, a Sua
ternura paternal. Não basta reconhecer a sabedoria e justiça da Sua
lei, e que ela se baseia sobre o eterno princípio do amor. O
apóstolo Paulo tinha conhecimento de tudo isso quando exclamava:
«Consinto com a lei, que é boa.» «A lei é santa, e o mandamento
santo, justo e bom.» Acrescentava, porém, na amargura da sua íntima
angústia e desespero: «Mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.»
(Romanos 7:16, 12, 14). Suspirava por uma santidade e por uma justiça
que se sentia impotente para alcançar por si mesmo, e exclamava:
«Miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta
morte?» (Romanos 7:24). Tal é o brado que tem subido em todas as
terras do pecado. Para todos só existe uma resposta: «Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.» (João 1:29).
Muitas são as imagens pelas quais o Espírito de Deus tem procurado
ilustrar esta verdade, a fim de a tornar clara às almas que suspiram
por se libertar do peso da culpa.
A uma delas – a da escada de Jacob – se referiu Cristo na Sua
conversa com Nataniel, quando disse. «Vereis o céu aberto e os
anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do homem.» (João
1:51). Pela sua apostasia o homem separa-se de Deus; a Terra
divorcia-se do Céu. Através do abismo que os separava não podia
haver comunicação. Mas graças a Cristo a Terra foi de novo ligada
com o Céu. Pelos Seus méritos, o Salvador lançou uma ponte sobre o
abismo que o pecado cavara, de maneira que os anjos ministradores
podem manter comunhão com o homem. Cristo restabeleceu as relações
entre o homem caído, fraco e impotente, e a Fonte do poder infinito.
É em vão que os homens sonham com o progresso, é debalde que se
esforçam pelo enobrecimento da humanidade, se deixam à margem a
única fonte de esperança e de salvação que lhes é oferecida.
«Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito» (Tiago 1:17), vem de
Deus. Não há, fora d’Ele, verdadeira excelência de carácter. A
única senda que conduz a Deus é Cristo. Ele próprio disse: «Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por
mim.» (João 14:6).
O coração de Deus transborda para os Seus filhos terrestres um amor
mais forte que a morte. Ao entregar o Seu Filho, nesse único dom
derramou sobre nós todos o Céu. A vida, a morte e a mediação do
Salvador, o ministério dos anjos, os apelos do Espírito, o Pai
operando acima de todos e por meio de todos, o interesse incessante
dos seres celestiais – tudo se empenha em favor da redenção do
homem.
Oh! Contemplemos o maravilhoso sacrifício consumado por nós!
Procuremos avaliar o esforço e energia que o Céu expede para
reconduzir os extraviados ao lar paterno. Motivos mais fortes e
agentes mais decisivos não poderiam jamais ser postos em acção; a
recompensa reservada aos que fazem o bem, o gozo do Céu, a sociedade
dos anjos, a comunhão e o amor de Deus e do Seu Filho, o
enobrecimento e aperfeiçoamento de todas as nossas faculdades
através dos séculos da eternidade – não são acaso incentivos
suficientes para nos impelir a consagrar ao nosso Criador e Redentor
o afectuoso serviço dos nossos corações?
Por outro lado, para nos advertir contra o serviço de Satanás, a
Palavra de Deus apresenta-nos os juízos divinos denunciados contra o
pecado e a retribuição inevitável: a degradação do carácter e a
destruição final.
Não deveríamos inclinar-nos humildemente perante a misericórdia de
Deus? Que mais poderia Ele fazer? Entremos, pois, em relação com
Aquele que nos amou com amor maravilhoso. Aproveitemos a ocasião que
nos é oferecida para ser transformados à imagem do Salvador e para
ingressar na sociedade dos anjos, assim como no favor e na comunhão
do Pai e do Filho.
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