sábado, 1 de abril de 2017

O Amor de Deus pela Humanidade

Colecção “VERDADES ETERNAS”

O Amor de Deus pela Humanidade

Deus criou o homem perfeitamente santo e feliz; e a formosa Terra, ao sair das mãos do Criador, não apresentava o menor vestígio de corrupção nem a mais ligeira sombra de maldição. Foi a desobediência à lei de Deus – à lei do amor – que trouxe a miséria e a morte. Não obstante, no próprio seio dos sofrimentos que resultam do pecado revela-se ainda o amor de Deus. Está escrito que Deus amaldiçoou a terra por causa do homem (Génesis 3:17). Mas os espinhos e cardos – as dificuldades e provações que fazem da vida um longo calvário – foram-nos enviados para nosso bem; entram no plano de Deus como meio de sairmos do estado de degradação e ruína em que o pecado nos mergulhou. De resto, no mundo nem tudo são tristezas e sofrimentos. A própria natureza envia mensagens de esperança e conforto. Brotam flores sobre os cardos e desabrocham rosas sobre os espinhos


O Amor de Deus pela Humanidade

«Deus é amor». Esta palavra lê-se em cada botão de flor e em cada haste de erva. Os buliçosos passarinhos que alvorotam os ares com os seus alegres trinos; as flores de delicados e variados matizes, que embalsamam a atmosfera com o seu doce perfume; as gigantescas árvores da floresta com a sua luxuriante ramagem de um verde vivo, – tudo nos fala da terna e paternal solcitude do nosso Deus, e do Seu desejo de fazer a felicidade dos Seus filhos.

No céu e na terra, Deus deixou-nos testemunhas inumeráveis da Sua bondade. Por intermédio da natureza e por provas de um amor mais terno e mais profundo do que o coração humano pode conceber, esforçou-se por Se revelar a nós. Mas tudo isso ainda não é senão um reflexo bem pálido do Seu carácter. E, apesar de tudo, o inimigo do bem cegou a tal ponto o espírito dos homens, que olham para Deus com temor e consideram-n’O como um ser inexorável. Satanás faz passar o nosso Pai celeste por um ser de uma injustiça inflexível, por um juiz severo e por um credor exigente e cruel. Ele pinta o Criador como um ser que espia os homens, procurando descobrir os seus pecados e erros, a fim de os ferir com os Seus juízos.

Foi para dissipar esse véu de trevas, revelando ao mundo o infinito amor de Deus, que Jesus baixou para viver entre os homens


O Filho de Deus veio do céu para revelar o Pai.

Descrevendo a Sua missão terrestre, Jesus disse: «O Espírito do Senhor é sobre mim, pois me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar a liberdade aos cativos e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos.» (Lucas 4:18-19). Tal era a Sua obra. Ia de lugar em lugar, fazendo o bem e curando os oprimidos por Satanás. Havia aldeias inteiras em que se não via mais casa alguma onde se ouvissem lamentos de enfermo, porque Jesus por elas passara e curara os seus doentes. A Sua obra testemunhava que era o Ungido de Deus. O amor, a misericórdia e a compaixão revelavam-se em cada acto da Sua vida. O Seu coração transbordava de terna simpatia pelos filhos dos homens. Revestira-Se da natureza humana para poder atingir as necessidades do homem. Os mais pobres e humildes não receavam aproximar-se. As próprias criancinhas sentiam-se atraídas para Ele. Gostavam de trepar para os Seus joelhos e fixar os olhos no Seu rosto bondoso e pensativo.

Jesus nada suprimia à verdade, mas dizia-a sempre com caridade. O Seu convívio com o povo era caracterizado por um tacto perfeito, por uma insinuante delicadeza. Nunca se viam n’Ele modos bruscos; jamais pronunciava desnecessariamente uma palavra severa, nem motivava dores desnecessárias a uma alma sensível. Não censurava a fraqueza humana. Dizia a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a injustiça; mas nessa altura as lágrimas embargavam-Lhe a voz. Chorou sobre Jerusalém, a cidade amada que recusava recebê-l’O, a Ele, que era o Caminho, a Verdade e a Vida. Havia rejeitado o seu Salvador, mas Ele continuava a quererê-la com ternura e compaixão. A Sua vida era feita de abnegação e de solicitude pelos outros. Toda a alma era preciosa aos Seus olhos. Sem que nunca Se deixasse de conduzir com dignidade divina, inclinava-Se, com a mais terna simpatia, sobre cada membro da família de Deus. Via em todos os homens almas caídas, cuja salvação constituía o objecto da Sua missão.

Tal é o carácter de Cristo, revelado na Sua vida. Tal é o carácter de Deus. É do coração do Pai que as torrentes da compaixão divina, manifestada em Cristo, dimanam para os filhos dos homens. Jesus, o terno e compassivo Salvador, era Deus manifestado em carne (I Timóteo 3:16).

Foi para nos remir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Tornou-Se um “Varão de dores”, a fim de nos fazer participantes das alegrias eternas. Deus permitiu que o Seu Filho amado, cheio de graça e de verdade, deixasse a mansão de inefável glória, para vir a um mundo manchado e corrupto pelo pecado e obscurecido pela sombra da maldição e da morte. «O castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados» (Isaías 53:5). Contemplai-O no deserto, no Getsémani, sobre a cruz! O Imaculado Filho de Deus tomou sobre Si o fardo dos nossos pecados! Ele,que fora um com Deus, sentiu na alma a terrível separação que o pecado cava entre Deus e o homem, separação que arrancou dos Seus lábios este grito de angústia: «Meu Deus, meu Deus, porque me desamaparaste?» (Mateus 27:46). Foi o peso do pecado e o sentimento da sua terrível enormidade, que quebrantaram o coração do Filho de Deus.

Mas este grande sacrifício não foi consumado a fim de fazer nascer no coração do Pai sentimentos de amor para com o homem, a fim de O dispor a salvá-lo. Não, não! «Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito» (João 3:16). O Pai ama-nos, mas não em virtude da grande propiciação; justamente porque nos ama é que nos deu esta propiciação. Cristo foi o instrumento pelo qual o Pai pôde derramar o Seu infinito amor sobre o mundo caído.

Ele o deu, não só para viver entre os homens, tomar sobre Si os seus pecados, e morrer em seu lugar; Cristo devia solidarizar-se com as necessidades e interesses da humanidade. Ele, que era um com o Pai, uniu-se aos filhos dos homens por laços indissolúveis. Jesus «não se envergonha de nos chamar irmãos» (Hebreus 2:11). Ele é a nossa Propiciação, o nosso Advogado, o nosso Irmão, apresentando-Se revestido com a forma humana perante o trono do Pai, e será durante toda a eternidade um com a raça humana que Ele – o Filho do homem –resgatou. E tudo isto, a fim de que o homem pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado, a fim de o pôr em condições de reflectir o amor de Deus e de participar do gozo da eternidade.

O preço pago pela nossa redenção, o sacrifício infinito do nosso Pai celeste entregando o Seu Filho para morrer por nós, deveria inspirar-nos uma alta ideia do que podemos tornar-nos por meio de Cristo. Depois de o inspirado apóstolo João haver contemplado a altura, a profundidade e a amplidão do amor do Pai para com a humanidade perdida, foi possuído de sentimentos de adoração e reverência; e, não podendo encontrar linguagem apropriada para exprimir a intensidade e ternura desse amor, exclamou: «Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus» (I João 3:1). Que alta valia esse amor deu ao homem! Pela transgressão, os filhos de Adão tornaram-se sujeitos a Satanás. Pela fé no sacrifício expiatório de Cristo, eles podem voltar a ser filhos de Deus. Assumindo a natureza humana, Cristo elevou a humanidade. Os homens caídos são colocados numa posição em que, mediante a união com Cristo, podem, na verdade, tornar-se dignos do nome de filhos de Deus.

Filhos do Rei celeste! Preciosa promessa! Tema inesgotável de meditação! O amor insondável de Deus por um mundo que não O amou! Tal amor é sem exemplo. A sua contemplação subjuga a alma e torna os pensamentos cativos da vontade de Deus. Quanto mais estudamos o carácter divino à luz que vem da cruz, tanto mais descobrimos nele a clemência e a ternura, tanto melhor vemos a misericórdia unida à equidade e à justiça, e tanto maior discernimos as inumeráveis provas de um amor que é infinito, e de uma compaixão que sobrepuja o amor ardente da mais terna mãe pelo seu filho extraviado


A necessidade de um Redentor

O homem foi de início dotado de faculadades nobres e de um espírito bem equilibrado. Era fisicamente perfeito e moralmente em harmonia com Deus. Os seus pensamentos eram puros, santas as suas aspirações. Mas pela desobediência as suas faculdades perverteram-se e o egoísmo substituiu o amor. Fez-se cativo de Satanás, e assim teria permanecido para sempre se Deus não tivesse intervido de modo especial. O fim do tentador era frustrar o plano divino ao criar o homem e cobrir a terra de miséria e desolação. E todo este mal ele apontava como consequência da criação do homem por Deus.

No seu estado de inocência o homem vivia numa feliz comunhão com Aquele «em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Colossenses 2:3). Mas depois do pecado, não podendo já encontrar prazer na santidade, procurou esconder-se da presença de Deus. Tal é ainda hoje o estado do coração não convertido. Não bate em uníssono com o coração de Deus e não encontra prazer algum na Sua comunhão. O pecador não poderia sentir-se feliz na presença de Deus; o contacto com os santos seres tornar-se-lhe-ia , pelo contrário, intolerável. Se lhe fosse permitido entrar no Céu, este nenhum gozo lhe proporcionaria. O espírito de desinteressado amor que ali reina – onde cada coração reflecte o Infinito Amor – não encontraria eco na sua alma. Os seus pensamentos, interesses e desígnios estariam em oposição com os de todos aqueles que ali habitam. Ele seria para ele uma nota discordante na melodia do Céu. O Céu seria para ele um lugar de tortura. O seu único pensamento seria ocultar-se d’Aquele que ali é luz e centro de todas as alegrias. Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que exclui do Céu os ímpios; estes são exc luídos pela sua própria incapacidade para gozar da companhia dos seus habitantes. A glória de Deus seria para eles um fogo devorador. Acolheriam com júbilo a destruição para furtar-se à presença d’Aquele que morreu para os resgatar.

É-nos impossível, por nós mesmos, sair do abismo de pecado em que estamos mergulhados. Os nossos corações são maus e não os podemos transformar. «Quem do imundo tira o puro? Ninguém.» «A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.» (João 14:4; Romanos 8:7). A educação, a cultura, o exercício da vontade, os esforços humanos, tudo tem a sua legítima esfera de acção, mas, neste caso, são impotentes. Poderão levar a um procedimento exteriormente correcto, mas não podem mudar o coração; são incapazes de purificar os mananciais da vida. Para conduzir os homens do estado de pecado ao de santidade é preciso um poder que opere interiormente, uma nova vida que proceda do alto. Esse poder é Cristo. Apenas a Sua graça é que pode vivificar as faculadades inertes da alma, e atraí-las para Deus, para a santidade. Disse o Salvador: «Aquele que não nascer de novo» – que não receber um coração novo e aspirações novas, que o conduzam a uma vida nova – «não pode ver o reino de Deus.» (João 3:3). A ideia de que basta desenvolver o bem, que por natureza existe no homem, é um erro fatal. «O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque elas se discernem espiritualmente.» «Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.» (I Coríntios 2:14; João 3:7) Acerca de Cristo a Escritura diz: «Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.» «E nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos.» (João 1:4; Actos 4:12).

Não basta entrever a bondade de Deus, a Sua benevolência, a Sua ternura paternal. Não basta reconhecer a sabedoria e justiça da Sua lei, e que ela se baseia sobre o eterno princípio do amor. O apóstolo Paulo tinha conhecimento de tudo isso quando exclamava: «Consinto com a lei, que é boa.» «A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.» Acrescentava, porém, na amargura da sua íntima angústia e desespero: «Mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.» (Romanos 7:16, 12, 14). Suspirava por uma santidade e por uma justiça que se sentia impotente para alcançar por si mesmo, e exclamava: «Miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?» (Romanos 7:24). Tal é o brado que tem subido em todas as terras do pecado. Para todos só existe uma resposta: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.» (João 1:29).

Muitas são as imagens pelas quais o Espírito de Deus tem procurado ilustrar esta verdade, a fim de a tornar clara às almas que suspiram por se libertar do peso da culpa.

A uma delas – a da escada de Jacob – se referiu Cristo na Sua conversa com Nataniel, quando disse. «Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do homem.» (João 1:51). Pela sua apostasia o homem separa-se de Deus; a Terra divorcia-se do Céu. Através do abismo que os separava não podia haver comunicação. Mas graças a Cristo a Terra foi de novo ligada com o Céu. Pelos Seus méritos, o Salvador lançou uma ponte sobre o abismo que o pecado cavara, de maneira que os anjos ministradores podem manter comunhão com o homem. Cristo restabeleceu as relações entre o homem caído, fraco e impotente, e a Fonte do poder infinito.

É em vão que os homens sonham com o progresso, é debalde que se esforçam pelo enobrecimento da humanidade, se deixam à margem a única fonte de esperança e de salvação que lhes é oferecida. «Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito» (Tiago 1:17), vem de Deus. Não há, fora d’Ele, verdadeira excelência de carácter. A única senda que conduz a Deus é Cristo. Ele próprio disse: «Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.» (João 14:6).

O coração de Deus transborda para os Seus filhos terrestres um amor mais forte que a morte. Ao entregar o Seu Filho, nesse único dom derramou sobre nós todos o Céu. A vida, a morte e a mediação do Salvador, o ministério dos anjos, os apelos do Espírito, o Pai operando acima de todos e por meio de todos, o interesse incessante dos seres celestiais – tudo se empenha em favor da redenção do homem.

Oh! Contemplemos o maravilhoso sacrifício consumado por nós! Procuremos avaliar o esforço e energia que o Céu expede para reconduzir os extraviados ao lar paterno. Motivos mais fortes e agentes mais decisivos não poderiam jamais ser postos em acção; a recompensa reservada aos que fazem o bem, o gozo do Céu, a sociedade dos anjos, a comunhão e o amor de Deus e do Seu Filho, o enobrecimento e aperfeiçoamento de todas as nossas faculdades através dos séculos da eternidade – não são acaso incentivos suficientes para nos impelir a consagrar ao nosso Criador e Redentor o afectuoso serviço dos nossos corações?

Por outro lado, para nos advertir contra o serviço de Satanás, a Palavra de Deus apresenta-nos os juízos divinos denunciados contra o pecado e a retribuição inevitável: a degradação do carácter e a destruição final.

Não deveríamos inclinar-nos humildemente perante a misericórdia de Deus? Que mais poderia Ele fazer? Entremos, pois, em relação com Aquele que nos amou com amor maravilhoso. Aproveitemos a ocasião que nos é oferecida para ser transformados à imagem do Salvador e para ingressar na sociedade dos anjos, assim como no favor e na comunhão do Pai e do Filho.