Colecção
“VERDADES ETERNAS”
A
SAGRADA ESCRITURA
DOCUMENTO
HISTÓRICO DA REVELAÇÃO DIVINA
Nos
alvores da história humana, Deus comunicava-se com o homem face a
face. Interveio, porém, o pecado, velando à nossa raça o semblante
divino e cavando um abismo intransponível entre a humanidade e a
Divindade.
Expulsos
os nossos primeiros pais do Paraíso, nem por isso Jeová os excluiu
do círculo da Sua amorosa misericórdia. Anjos visitavam
frequentemente o triste casal exilado, confortando-os e
revelando-lhes os pormenores de um vasto plano delineado nos
concílios celestiais e cujo fim era a reabilitação do género
humano. Lábios angélicos, pois, destilavam amorosamente na chaga
viva dos corações, que nutriam a angústia da separação de Deus,
o bálsamo de uma suavíssima história – a história da Redenção.
Nasceu
Caim e com ele o primeiro homicida. Multiplicou-se o mal mais
depressa que o bem. Mas não faltaram nunca as almas puras, os homens
rectos. Poucos, por vezes, mas nunca inexistentes. Esses poucos
incluíram Seth, Enoque, Noé, Abraão, Isaac, Jacob e outros que
foram transplantando para as gerações sucessivas a maravilhosa
história do Salvador por vir, o Mestre desejado. E, dada a grande
longevidade dos patriarcas, especialmente os antediluvianos, não é
de estranhar que a tradição se conservasse pura, porquanto era, por
assim dizer, “controlada”, por várias gerações ao mesmo tempo.
Assim é que ainda vivia Seth quando nasceu Lamech, pai de Noé e
este era ainda vivo quando apareceu Tera, pai de Abraão. Da morte
deste até ao nascimento de Moisés decorreram dois séculos e meio
apenas – período abrangido por vários patriarcas, isto é, Isaac,
Jacob, Levi, Cahat e Amram.
Com
Moisés apareceu o primeiro escritor da Bíblia. Isolado nos desertos
de Midian, a apascentar as ovelhas do seu sogro Jetro, o Senhor o
inspirou a registar a génese do mundo. E surgiu assim o Génesis,
esse epítome de história e pré-história, admirável pela sua
concisão e clareza, sublime na simplicidade e despretensão do seu
estilo.
Os
manuscritos sagrados foram compilados aos poucos, através da antiga
dispensação e do primeiro século da nova. A Escritura Sagrada não
é o produto de um homem, ou de um concílio, ou decreto de
autoridade humana. Acrescentou-se um livro a outro, até chegarmos ao
fim dos tempos do Velho Testamento. Depois do cativeiro babilónico,
todos os livros sobre os quais não havia dúvida e que eram
geralmente aceites, foram coligidos e dispostos por Esdras, Neemias e
os seus cooperadores. Esses livros constituíam as Sagradas
Escrituras no tempo do nosso Senhor. São mencionados por Josefo e
sempre aprovados por Jesus. O Novo Testamento foi-se acrescentando da
mesma forma, livro a livro, epístola a epístola, por parte de
homens cheios do Espírito Santo.
Que
garantias temos?
Mas
que garantias se nos oferecem de ser a Bíblia a autêntica Escritura
Sagrada, o livro inspirado por Deus e destinado a ser a nossa regra
de fé e conduta? Como veio até nós? Merecerá a confiança que o
mundo cristão nele deposita? É firme a base sobre a qual repousa a
estrutura do Cristianismo?
Partamos
do facto da existência da Escritura, hoje, no nosso meio. Isso
ninguém negará, pois ela é vista por toda a parte. Facto é também
ela existir desde longa data. Com efeito, era já antiga quando se
inventou a impressão com tipos móveis. Foi ela o primeiro livro que
Gutenberg imprimiu num rústico prelo de madeira, accionado à mão.
O
Velho Testamento foi originalmente escrito em hebraico, excepto
alguns capítulos de Daniel (2:4 até ao fim do 7) e poucos
versículos do livro de Esdras, os quais foram escritos em aramaico.
O
Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, excepto o livro
de S. Mateus, que foi em aramaico, sendo depois traduzido para o
grego. Já cedo se fizeram traduções da Escritura completa, sendo a
mais cuidada a de Jerónimo, feita de 383-405 A.D.
Como
foi inspirada?
Mas,
afinal, perguntará o leitor, de que maneira se deu a inspiração
divina da Bíblia?
Ora,
é claro que Deus não ditou a Escritura aos homens como o professor
faz um ditado aos alunos ou o comerciante ao dactilógrafo.
«Quando
Deus inspirava homens a escrever, não desaparecia a personalidade do
escritor, nem ele alterava o seu estilo. O Espírito de Deus dirigia
infalivelmente a comunicação da verdade divina segundo o próprio
vocabulário do escritor e de acordo com o seu estilo particular.
Inspiração significa que o Espírito, mediante uma misteriosa
“operação”, que está além da nossa compreensão, actuou de
tal modo sobre os homens escolhidos, enquanto escreviam os livros da
Escritura, que eram guiados sobrenaturalmente na comunicação da
vontade de Deus. A sua personalidade individual, os seus traços
intelectuais particulares e mesmo a forma de estilo da sua expressão
literária, tinham toda a liberdade. O Espírito Santo serviu-Se
deles, dirigindo e “guiando” o produto de tal forma que resultou
a ‘palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.’»
João
Wesley fulminava com o seguinte argumento os descrentes na inspiração
da Escritura: «A Bíblia foi concebida por uma das seguintes
entidades. 1. – Por homens bons ou anjos; 2. – Por homens maus ou
demónios; 3. – Ou então por Deus.
«1.
– Não pode ter sido concebida por homens bons nem por anjos,
porque nem uns nem outros, poderiam escrever um livro em que
estivessem mentindo em cada página escrita, quando lá puseram a
seguinte frase: ‘Assim diz o Senhor’, sabendo perfeitamente que o
Senhor nada dissera e tudo fora inventado por eles.»
«2.
– Não pode ter sido concebida por homens maus ou por anjos maus,
porque seriam incapazes de escrever um livro que ordena a prática de
todos os grandes deveres, proíbe os pecados e condena ao castigo
eterno.»
3.
– Portanto, concluo que a Bíblia foi concebida por Deus e
inspirada aos homens.
A
Bíblia, a Ciência e a Arqueologia
A
Biblioteca do Louvre, em Paris, tem cinco quilómetros de prateleiras
abarrotadas de compêndios que já brilharam nas cátedras, mas que
se tornaram antiquados dentro de cinquenta anos! Em ponto reduzido,
dá-se o mesmo em todas as bibliotecas, mesmo as modestas, dos nossos
colégios e universidades. Tão vária é a ciência humana!
A
Escritura Sagrada não se propõe ser um compêndio para o estudo das
ciências. Tão-pouco ela faz do conhecimento científico a pedra de
toque da sua origem divina. Com efeito, não se empenha em elaborar
argumentos para demonstrar ou provar a sua autenticidade. Está,
felizmente, muito além da necessidade de o fazer e é outro o seu
papel. Entretanto, faz, incidentalmente muitas alusões a pontos de
ciência, as quais os estudiosos do assunto tiveram de reconhecer
como rigorosamente exactas. Factos que foram, por muito tempo,
discutidos e controvertidos pela suposta ciência humana, até que, a
pouco e pouco, sobre eles se fizesse luz, já lá estão na Bíblia,
esclarecidos e na linguagem simples e despretensiosa que lhe é
peculiar. Adaptada a todos os povos e a todas as épocas, jamais se
torna ela um livro antiquado.
Um
dos capítulos mais interessantes, no que que diz respeito a
autenticar a Bíblia como a carta magna que Deus confiou ao homem, é
sem dúvida o que nos oferecem as explorações arqueológicas. A pá
e a picareta têm-nos trazido os mais incontestáveis testemunhos da
veracidade das Escrituras. Fizeram ressurgir cidades inteiras,
soterradas há milénios em cinzas e lavas ou areias. Nelas escavaram
ladrilhos em que se lêem as mais curiosas inscrições de reis e
potentados, as mais interessantes crónicas sobre acontecimentos cuja
memória de contrário se teriam apagado na noite dos tempos e os
mais importantes registos em apoio da verdade estrita da Bíblia.
A
Escritura Sagrada e as Profecias
O
elemento profético é a principal pedra de toque da autenticidade
das Escrituras Sagradas. É o elemento que prima pela ausência dos
volumes sagrados das religiões não cristãs e pelo qual, pois, o
Livro do cristão patenteia irrefutavelmente a sua incomparável
superioridade sobre eles todos.
O
próprio Jeová lança aos deuses falsos o seguinte repto:
«Apresentai
a vossa demanda, diz o Senhor; trazei as vossas firmes razões, diz o
Rei de Jacob. Tragam e anunciem-nos as coisas passadas, para que
atentemos para elas, e saibamos o fim delas; ou fazei-nos ouvir as
coisas futuras. Anunciai-nos as coias que ainda hão-de vir, para que
saibamos que sois deuses: fazei bem, ou fazei mal, para que nos
assombremos, e juntamente o vejamos.» (Isaías 41:21-23).
O
mesmo Deus declara assim, residir na Sua presciência, isto é, a
capacidade de prever, profetizar, a Sua prerrogativa divina.
«Anunciar o fim desde o princípio» (Isaías 46:9-10) constitui,
por assim dizer, as credenciais da Divindade. De onde se conclui que
essa mesma qualidade é o que ergue acima de todas as cartilhas
religiosas, da maneira mais sublime e sobrenatural, a Bíblia
Sagrada.
O
poder moral da Bíblia
O
Dr. João Paton acabava de traduzir e publicar o Novo Testamento numa
das muitas e pitorescas línguas do continente africano – o aniwan
– quando o aborda um velho chefe indígena, que o vinha observando
e lhe pergunta:
–
O livro fala?
–
Sim, responde o missionário; ele agora fala na sua língua.
–
Oh! Deixe que ele me fale! Quero ouvi-lo!
Paton
pôs-se a ler um trecho, sendo, porém, logo interrompido pelo
ouvinte, que lhe brada:
–
Ele fala! Dê-me esse livro!
E,
arrebatando-lho das mãos, pôs-se a mirá-lo curiosamente de todos
os lados e a apertá-lo, comovido, ao coração, repetindo:
–
Oh! Faça que me fale de novo!
Bendito
o que, com a fé infantil desse velho africano, como ele, abre os
ouvidos e a alma para que a Palavra Divina lhe fale! Bendito, sim,
pois ela penetrar-lhe-á no íntimo e transformará todo o seu ser,
porquanto a Escritura é, como tão bem o disse o maior dentre os
apóstolos, «viva e eficaz e mais penetrante do espada alguma de
dois gumes e penetra até à divisão da alma e do espírito e das
juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções
do coração.» (Hebreus 4:12).
A
Bíblia é a palavra escrita de Deus. Como Sua palavra falada, que
pela simples enunciação trouxe à vida os mundos, ela participa do
poder ilimitado d’Aquele a quem poderia chamar a Palavra Encarnada
– Jesus Cristo, o Verbo Criador, por quem «todas as coisas foram
criadas» (João 1:1-3).
E,
não está justamente no facto de ser a Escritura traduzida em tantas
línguas selvagens, muitas vezes com risco de vida – o que não se
dá com nenhuma obra profana – não está exactamente aí outro
elemento que contribui para a sua defesa? E mais ainda, se nos
lembrarmos que o Evangelho vai criar entre esses povos indígenas uma
civilização – a civilização máxima, que é a cristã!
Fala
da superioridade do nosso Livro sobre os escritos sagrados de todas
as religiões, o contraste absoluto que se nota entre a civilização
cristã e as pagãs.
Aportou
certa vez a uma das ilhas do arquipélago de Fidji, no oceano
Pacífico, um ateu cheio de ciência evolucionista. Ao encontrar-se
com alguns nativos cristãos, começou a ridicularizar a Escritura
Sagrada, jactando-se de ser incrédulo. Um humilde nativo
retorquiu-lhe:
–
Vê o senhor aquele velho forno? Ali era onde assávamos carne
humana; se não fosse este evangelho e crêssemos nós ainda nisso
que o senhor prega, seria muito provável que o senhor mesmo ali
fosse parar. Bem vê que o cristianismo, que o senhor tenta desfazer,
serve para alguma coisa.
Nada
há como o cristianismo – o puro, inadulterado cristianismo bíblico
– para enobrecer e desenvolver um povo. É que a religião de
Cristo implanta em todos os corações uma santificada ambição, um
desejo incontido de ampliar os horizontes e dilatar a esfera de
utilidade. Um confronto entre nações pagãs e cristãs faz-nos
saltar aos olhos a diferença que existe na cultura e progresso de
umas e outras.
Beleza
literária da Bíblia
Existe,
no espírito de muitas pessoas, a ideia preconcebida de haver uma
certa incompatibilidade entre a religião cristã e as letras.
Que
incomparável riqueza literária, por exemplo, na filosofia dos
Provérbios e Eclesiastes; na inigualável poesia dos Salmos (cujo
original foi escrito em verso) e nas parábolas e ensinos de Cristo,
como seja o Sermão da montanha; na concisão maravilhosa do Pai
Nosso; na suavidade do estilo das epístolas do apóstolo João! Às
parábolas de Cristo, alguém chamou, com muita razão, «a poesia do
Novo Testamento.»
Um
escritor reconhecidamente ateu, o senhor H. L. MensKen, exprime-se
assim sobre a beleza literária da Sagrada Escritura:
«A
Bíblia é, inquestionavelmente, o mais belo livro do mundo. Não há
literatura, quer antiga quer moderna, que se compare a ela. … O
Salmo 23 é o maior dos hinos. … A história de Jesus é
incomparavelmente comovedora. É, na verdade, a narração mais
encantadora já escrita. Ao seu lado, o melhor que encontrardes na
literatura sagrada dos muçulmanos e brâmanes, dos persas e
budistas, parece insípido, cediço e inútil.»
A
pedra angular do edifício bíblico
O
plano da redenção do homem é a grande inamovível pedra angular do
edifício bíblico, que os séculos e milénios não conseguiram
abalar.
A excelência desse bendito plano avulta, quando nos imaginamos
pecadores, irremediavelmente perdidos, sem um Salvador. Que seria de
nós? Um vale de trevas impenetráveis, uma noite angustiosa, sem uma
estrela na amplidão do futuro, nem um corisco de esperança a
iluminar o céu da nossa existência – eis em que se resumiria o
nosso viver, o nosso vegetar.
O
conhecimento desse plano é justamente o que se concede aos que têm
a Escritura Sagrada como o seu guia no roteiro da vida.
(Feito
na Ponte, 2-12-2016, Sexta-feira, 17H15)
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