quinta-feira, 23 de março de 2017

DOCUMENTO HISTÓRICO DA REVELAÇÃO DIVINA

Colecção “VERDADES ETERNAS”
A SAGRADA ESCRITURA
DOCUMENTO HISTÓRICO DA REVELAÇÃO DIVINA


Nos alvores da história humana, Deus comunicava-se com o homem face a face. Interveio, porém, o pecado, velando à nossa raça o semblante divino e cavando um abismo intransponível entre a humanidade e a Divindade.
Expulsos os nossos primeiros pais do Paraíso, nem por isso Jeová os excluiu do círculo da Sua amorosa misericórdia. Anjos visitavam frequentemente o triste casal exilado, confortando-os e revelando-lhes os pormenores de um vasto plano delineado nos concílios celestiais e cujo fim era a reabilitação do género humano. Lábios angélicos, pois, destilavam amorosamente na chaga viva dos corações, que nutriam a angústia da separação de Deus, o bálsamo de uma suavíssima história – a história da Redenção.
Nasceu Caim e com ele o primeiro homicida. Multiplicou-se o mal mais depressa que o bem. Mas não faltaram nunca as almas puras, os homens rectos. Poucos, por vezes, mas nunca inexistentes. Esses poucos incluíram Seth, Enoque, Noé, Abraão, Isaac, Jacob e outros que foram transplantando para as gerações sucessivas a maravilhosa história do Salvador por vir, o Mestre desejado. E, dada a grande longevidade dos patriarcas, especialmente os antediluvianos, não é de estranhar que a tradição se conservasse pura, porquanto era, por assim dizer, “controlada”, por várias gerações ao mesmo tempo. Assim é que ainda vivia Seth quando nasceu Lamech, pai de Noé e este era ainda vivo quando apareceu Tera, pai de Abraão. Da morte deste até ao nascimento de Moisés decorreram dois séculos e meio apenas – período abrangido por vários patriarcas, isto é, Isaac, Jacob, Levi, Cahat e Amram.
Com Moisés apareceu o primeiro escritor da Bíblia. Isolado nos desertos de Midian, a apascentar as ovelhas do seu sogro Jetro, o Senhor o inspirou a registar a génese do mundo. E surgiu assim o Génesis, esse epítome de história e pré-história, admirável pela sua concisão e clareza, sublime na simplicidade e despretensão do seu estilo.
Os manuscritos sagrados foram compilados aos poucos, através da antiga dispensação e do primeiro século da nova. A Escritura Sagrada não é o produto de um homem, ou de um concílio, ou decreto de autoridade humana. Acrescentou-se um livro a outro, até chegarmos ao fim dos tempos do Velho Testamento. Depois do cativeiro babilónico, todos os livros sobre os quais não havia dúvida e que eram geralmente aceites, foram coligidos e dispostos por Esdras, Neemias e os seus cooperadores. Esses livros constituíam as Sagradas Escrituras no tempo do nosso Senhor. São mencionados por Josefo e sempre aprovados por Jesus. O Novo Testamento foi-se acrescentando da mesma forma, livro a livro, epístola a epístola, por parte de homens cheios do Espírito Santo.


Que garantias temos?
Mas que garantias se nos oferecem de ser a Bíblia a autêntica Escritura Sagrada, o livro inspirado por Deus e destinado a ser a nossa regra de fé e conduta? Como veio até nós? Merecerá a confiança que o mundo cristão nele deposita? É firme a base sobre a qual repousa a estrutura do Cristianismo?
Partamos do facto da existência da Escritura, hoje, no nosso meio. Isso ninguém negará, pois ela é vista por toda a parte. Facto é também ela existir desde longa data. Com efeito, era já antiga quando se inventou a impressão com tipos móveis. Foi ela o primeiro livro que Gutenberg imprimiu num rústico prelo de madeira, accionado à mão.
O Velho Testamento foi originalmente escrito em hebraico, excepto alguns capítulos de Daniel (2:4 até ao fim do 7) e poucos versículos do livro de Esdras, os quais foram escritos em aramaico.
O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, excepto o livro de S. Mateus, que foi em aramaico, sendo depois traduzido para o grego. Já cedo se fizeram traduções da Escritura completa, sendo a mais cuidada a de Jerónimo, feita de 383-405 A.D.

Como foi inspirada?
Mas, afinal, perguntará o leitor, de que maneira se deu a inspiração divina da Bíblia?
Ora, é claro que Deus não ditou a Escritura aos homens como o professor faz um ditado aos alunos ou o comerciante ao dactilógrafo.
«Quando Deus inspirava homens a escrever, não desaparecia a personalidade do escritor, nem ele alterava o seu estilo. O Espírito de Deus dirigia infalivelmente a comunicação da verdade divina segundo o próprio vocabulário do escritor e de acordo com o seu estilo particular. Inspiração significa que o Espírito, mediante uma misteriosa “operação”, que está além da nossa compreensão, actuou de tal modo sobre os homens escolhidos, enquanto escreviam os livros da Escritura, que eram guiados sobrenaturalmente na comunicação da vontade de Deus. A sua personalidade individual, os seus traços intelectuais particulares e mesmo a forma de estilo da sua expressão literária, tinham toda a liberdade. O Espírito Santo serviu-Se deles, dirigindo e “guiando” o produto de tal forma que resultou a ‘palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.’»
João Wesley fulminava com o seguinte argumento os descrentes na inspiração da Escritura: «A Bíblia foi concebida por uma das seguintes entidades. 1. – Por homens bons ou anjos; 2. – Por homens maus ou demónios; 3. – Ou então por Deus.
«1. – Não pode ter sido concebida por homens bons nem por anjos, porque nem uns nem outros, poderiam escrever um livro em que estivessem mentindo em cada página escrita, quando lá puseram a seguinte frase: ‘Assim diz o Senhor’, sabendo perfeitamente que o Senhor nada dissera e tudo fora inventado por eles.»
«2. – Não pode ter sido concebida por homens maus ou por anjos maus, porque seriam incapazes de escrever um livro que ordena a prática de todos os grandes deveres, proíbe os pecados e condena ao castigo eterno.»
3. – Portanto, concluo que a Bíblia foi concebida por Deus e inspirada aos homens. 

A Bíblia, a Ciência e a Arqueologia
A Biblioteca do Louvre, em Paris, tem cinco quilómetros de prateleiras abarrotadas de compêndios que já brilharam nas cátedras, mas que se tornaram antiquados dentro de cinquenta anos! Em ponto reduzido, dá-se o mesmo em todas as bibliotecas, mesmo as modestas, dos nossos colégios e universidades. Tão vária é a ciência humana!
A Escritura Sagrada não se propõe ser um compêndio para o estudo das ciências. Tão-pouco ela faz do conhecimento científico a pedra de toque da sua origem divina. Com efeito, não se empenha em elaborar argumentos para demonstrar ou provar a sua autenticidade. Está, felizmente, muito além da necessidade de o fazer e é outro o seu papel. Entretanto, faz, incidentalmente muitas alusões a pontos de ciência, as quais os estudiosos do assunto tiveram de reconhecer como rigorosamente exactas. Factos que foram, por muito tempo, discutidos e controvertidos pela suposta ciência humana, até que, a pouco e pouco, sobre eles se fizesse luz, já lá estão na Bíblia, esclarecidos e na linguagem simples e despretensiosa que lhe é peculiar. Adaptada a todos os povos e a todas as épocas, jamais se torna ela um livro antiquado.
Um dos capítulos mais interessantes, no que que diz respeito a autenticar a Bíblia como a carta magna que Deus confiou ao homem, é sem dúvida o que nos oferecem as explorações arqueológicas. A pá e a picareta têm-nos trazido os mais incontestáveis testemunhos da veracidade das Escrituras. Fizeram ressurgir cidades inteiras, soterradas há milénios em cinzas e lavas ou areias. Nelas escavaram ladrilhos em que se lêem as mais curiosas inscrições de reis e potentados, as mais interessantes crónicas sobre acontecimentos cuja memória de contrário se teriam apagado na noite dos tempos e os mais importantes registos em apoio da verdade estrita da Bíblia. 

A Escritura Sagrada e as Profecias
O elemento profético é a principal pedra de toque da autenticidade das Escrituras Sagradas. É o elemento que prima pela ausência dos volumes sagrados das religiões não cristãs e pelo qual, pois, o Livro do cristão patenteia irrefutavelmente a sua incomparável superioridade sobre eles todos.
O próprio Jeová lança aos deuses falsos o seguinte repto:
«Apresentai a vossa demanda, diz o Senhor; trazei as vossas firmes razões, diz o Rei de Jacob. Tragam e anunciem-nos as coisas passadas, para que atentemos para elas, e saibamos o fim delas; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coias que ainda hão-de vir, para que saibamos que sois deuses: fazei bem, ou fazei mal, para que nos assombremos, e juntamente o vejamos.» (Isaías 41:21-23).
O mesmo Deus declara assim, residir na Sua presciência, isto é, a capacidade de prever, profetizar, a Sua prerrogativa divina. «Anunciar o fim desde o princípio» (Isaías 46:9-10) constitui, por assim dizer, as credenciais da Divindade. De onde se conclui que essa mesma qualidade é o que ergue acima de todas as cartilhas religiosas, da maneira mais sublime e sobrenatural, a Bíblia Sagrada. 

O poder moral da Bíblia
O Dr. João Paton acabava de traduzir e publicar o Novo Testamento numa das muitas e pitorescas línguas do continente africano – o aniwan – quando o aborda um velho chefe indígena, que o vinha observando e lhe pergunta:
– O livro fala?
– Sim, responde o missionário; ele agora fala na sua língua.
– Oh! Deixe que ele me fale! Quero ouvi-lo!
Paton pôs-se a ler um trecho, sendo, porém, logo interrompido pelo ouvinte, que lhe brada:
– Ele fala! Dê-me esse livro!
E, arrebatando-lho das mãos, pôs-se a mirá-lo curiosamente de todos os lados e a apertá-lo, comovido, ao coração, repetindo:
– Oh! Faça que me fale de novo!
Bendito o que, com a fé infantil desse velho africano, como ele, abre os ouvidos e a alma para que a Palavra Divina lhe fale! Bendito, sim, pois ela penetrar-lhe-á no íntimo e transformará todo o seu ser, porquanto a Escritura é, como tão bem o disse o maior dentre os apóstolos, «viva e eficaz e mais penetrante do espada alguma de dois gumes e penetra até à divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.» (Hebreus 4:12).
A Bíblia é a palavra escrita de Deus. Como Sua palavra falada, que pela simples enunciação trouxe à vida os mundos, ela participa do poder ilimitado d’Aquele a quem poderia chamar a Palavra Encarnada – Jesus Cristo, o Verbo Criador, por quem «todas as coisas foram criadas» (João 1:1-3).
E, não está justamente no facto de ser a Escritura traduzida em tantas línguas selvagens, muitas vezes com risco de vida – o que não se dá com nenhuma obra profana – não está exactamente aí outro elemento que contribui para a sua defesa? E mais ainda, se nos lembrarmos que o Evangelho vai criar entre esses povos indígenas uma civilização – a civilização máxima, que é a cristã!
Fala da superioridade do nosso Livro sobre os escritos sagrados de todas as religiões, o contraste absoluto que se nota entre a civilização cristã e as pagãs.
Aportou certa vez a uma das ilhas do arquipélago de Fidji, no oceano Pacífico, um ateu cheio de ciência evolucionista. Ao encontrar-se com alguns nativos cristãos, começou a ridicularizar a Escritura Sagrada, jactando-se de ser incrédulo. Um humilde nativo retorquiu-lhe:
– Vê o senhor aquele velho forno? Ali era onde assávamos carne humana; se não fosse este evangelho e crêssemos nós ainda nisso que o senhor prega, seria muito provável que o senhor mesmo ali fosse parar. Bem vê que o cristianismo, que o senhor tenta desfazer, serve para alguma coisa.
Nada há como o cristianismo – o puro, inadulterado cristianismo bíblico – para enobrecer e desenvolver um povo. É que a religião de Cristo implanta em todos os corações uma santificada ambição, um desejo incontido de ampliar os horizontes e dilatar a esfera de utilidade. Um confronto entre nações pagãs e cristãs faz-nos saltar aos olhos a diferença que existe na cultura e progresso de umas e outras.

Beleza literária da Bíblia
Existe, no espírito de muitas pessoas, a ideia preconcebida de haver uma certa incompatibilidade entre a religião cristã e as letras.
Que incomparável riqueza literária, por exemplo, na filosofia dos Provérbios e Eclesiastes; na inigualável poesia dos Salmos (cujo original foi escrito em verso) e nas parábolas e ensinos de Cristo, como seja o Sermão da montanha; na concisão maravilhosa do Pai Nosso; na suavidade do estilo das epístolas do apóstolo João! Às parábolas de Cristo, alguém chamou, com muita razão, «a poesia do Novo Testamento.»
Um escritor reconhecidamente ateu, o senhor H. L. MensKen, exprime-se assim sobre a beleza literária da Sagrada Escritura:
«A Bíblia é, inquestionavelmente, o mais belo livro do mundo. Não há literatura, quer antiga quer moderna, que se compare a ela. … O Salmo 23 é o maior dos hinos. … A história de Jesus é incomparavelmente comovedora. É, na verdade, a narração mais encantadora já escrita. Ao seu lado, o melhor que encontrardes na literatura sagrada dos muçulmanos e brâmanes, dos persas e budistas, parece insípido, cediço e inútil.»

A pedra angular do edifício bíblico
O plano da redenção do homem é a grande inamovível pedra angular do edifício bíblico, que os séculos e milénios não conseguiram abalar.
A excelência desse bendito plano avulta, quando nos imaginamos pecadores, irremediavelmente perdidos, sem um Salvador. Que seria de nós? Um vale de trevas impenetráveis, uma noite angustiosa, sem uma estrela na amplidão do futuro, nem um corisco de esperança a iluminar o céu da nossa existência – eis em que se resumiria o nosso viver, o nosso vegetar.
O conhecimento desse plano é justamente o que se concede aos que têm a Escritura Sagrada como o seu guia no roteiro da vida.

(Feito na Ponte, 2-12-2016, Sexta-feira, 17H15)

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