domingo, 5 de novembro de 2017

A Luta Com Um Anjo

Introdução


Não é vulgar ouvirmos falar de um homem a lutar com um anjo. Mas tal aconteceu há quase 4000 anos, entre Jacob e o Anjo do Senhor (Génesis 32). Como resultado dessa luta o anjo mudou o nome de Jacob para “Israel”.

  1. O Significado do Nome Israel

A primeira vez que aparece o nome “Israel” na Bíblia foi quando Jacob lutou com o Anjo e prevaleceu (Gén. 32:26-28). O Senhor então mudou-lhe o nome de Jacob (suplantador, vigarista, enganador), para Israel (como príncipe lutaste com os homens e com Deus e prevaleceste).

Os nomes na Bíblia são descrições do carácter das pessoas. Jacob descrevia o homem de pecado. Israel o novo homem vitorioso sobre o pecado pelo poder do anjo, com quem lutou. Quando o Anjo lhe perguntou o nome, Ele já sabia a resposta. Mas Ele quis que o próprio Jacob o pronunciasse para com isso representar a sua humilde, confissão e afastamento do pecado. Jacob saiu vencedor no teste. Arrependeu-se e colocou-se na inteira dependência da misericórdia de Deus.

A resposta: «Não se chamará mais o teu nome Jacob, mas Israel», revelou que Deus lhe dera um novo carácter! Assim o nome “Israel” era um nome espiritual, simbolizando a vitória espiritual de Jacob sobre o seu pecado de engano do passado. Noutras palavras o homem “Jacob” era agora um “Israel” espiritual.

  1. O Povo de Israel

Israel teve 12 filhos, cujos descendentes saíram do Egipto para Canaã (Êxodo 1:1-5). Os filhos de Israel tinham-se multiplicado muito no Egipto. A partir de certa altura, o faraó, que não conhecera José, impôs-lhes a escravidão, que durou até ao tempo de Moisés. Então Deus disse a Moisés: «Diz a faraó, assim diz o Senhor, Israel é o meu filho, o meu primogénito. ... Deixa ir o meu filho.» (Êxodo 4:22-23).

Vemos por estas palavras que o nome Israel se expande. Não mais se aplica unicamente a Jacob, mas também aos seus descendentes. A nação é agora chamada “Israel”. Assim este nome foi primeiramente aplicado a um homem vitorioso e depois a um povo. Era desejo de Deus que também esta nova nação fosse vitoriosa, como fora Jacob, pela fé n’Ele. Deus chamou a esta nova nação de Israel «o meu filho ... o meu primogénito».

  1. Outros Nomes Aplicados a Israel

Israel foi chamado uma “vinha” que Deus «trouxe do Egipto» (Sal. 80:8). Deus disse: «Mas tu, Israel, és o meu servo, ... a semente de Abraão» (Isa. 41:8). Deus também se referiu a Israel como o meu eleito (Isa. 45:4). Ainda por intermédio de Isaías Deus diz de Israel o seguinte: «Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o meu Eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; juízo produzirá entre os gentios. Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega: em verdade, produzirá o juízo; não faltará, nem será quebrantado, até que ponha na terra o juízo: e as ilhas aguardarão a sua doutrina.» (Isa. 42:1-4). Não esqueçamos que todas estas palavras se aplicaram originalmente à nação de Israel.

Por volta do ano 800 a. C., o Senhor disse por intermédio do profeta Oséas: «Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egipto chamei a meu filho.» (Os. 11:1). No entanto, por este tempo a nação de Israel, que Deus amara, deixara de viver à altura do significado do seu próprio nome. Não tinha vivido vitoriosamente. Com tristeza, Deus declarou: «Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face: sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura.» (Os. 11:2). Esta frase, da parte de Deus, é como uma bomba relógio, que vai explodir, de modo assombroso, na revelação do Novo Testamento.

  1. A Noite de Luta

«Na sua noite de angústia, ao lado do Jaboque, quando a destruição parecia estar precisamente diante dele, ensinara-se a Jacob quão vão é o auxílio do homem, quão destituída de fundamento é toda a confiança na força humana. Viu que o seu único auxílio devia vir d’Aquele contra quem tão ofensivmente pecara. Desamparado e indigno, rogou a promessa de misericórdia de Deus ao pecador arrependido. Aquela promessa foi a sua certeza de que Deus o perdoaria e o aceitaria. Mais facilmente poderiam o céu e a Terra passar do que falhar aquela palavra; e foi isto o que o alentou durante aquele terrível conflito.» (Patriarcas e Profetas, p. 200).

  1. A Luta do Povo de Deus no Tempo do Fim

«A experiência de Jacob durante aquela noite de luta e angústia, representa a prova pela qual o povo de Deus deverá passar precisamente antes da segunda vinda de Cristo. O profeta Jeremias, em santa visão, olhando para este tempo, disse: ‘Ouvimos uma voz de tremor, de tremor mas não de paz. ... Porque se têm tornado macilentos todos os rostos? Ah! Porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! E é tempo de angústia para Jacob: ele porém será livrado dela.» (Jer. 30:5-7).

«Quando Cristo cessar a Sua obra como mediador em prol do homem, então começará este tempo de angústia. Ter-se-á então decidido o caso de toda a alma, e não haverá sangue expiatório para purificar do pecado. Ao deixar Jesus a Sua posição como intercessor do homem, junto a Deus, faz-se o solene anúncio: ‘Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.» (Apoc. 22:11). Então o Espírito repressor de Deus é retirado da Terra. Assim como Jacob foi ameaçado de morte pelo seu irmão irado, o povo de Deus estará em perigo por parte dos ímpios, que procurarão destruí-los. E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, clamarão os justos a Deus, dia e noite, por livramento dos inimigos que os cercam.

«Satanás acusara Jacob diante dos anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa do seu pecado; levara Esaú a marchar contra ele; e, durante a longa noite de luta do patriarca, Satanás esforçou-se por impor-lhe a intuição da sua culpa, a fim de o desanimar, e romper o seu apego com Deus. Quando, na sua angústia, Jacob lançou mão do Anjo, e com lágrimas suplicou, o Mensageiro celeste, a fim de provar a sua fé, lembrou-o também do seu pecado, e esforçou-se por escapar dele. Mas Jacob não quis demover-se. Aprendera que Deus é misericordioso, e lançou-se à Sua misericórdia. Fez referência ao arrependimento do seu pecado, e implorou livramento. Ao rever a sua vida, foi impelido quase ao desespero; mas segurou firmemente o Anjo, e com brados ardorosos, aflitivos, insistiu na sua petição, até que prevaleceu.

«Tal será a experiência do povo de Deus na sua luta final com os poderes do mal. Deus lhes provará a fé, a perseverança, a confiança no Seu poder para os livrar. Satanás esforçar-se-á por aterrorizá-los com o pensamento de que os seus casos são sem esperança; que os seus pecados foram demasiado grandes para receberem perdão. Terão uma intuição profunda dos seus malogros; e, ao reverem a sua vida, soçobrar-lhes-ão as esperanças. Lembrando-se, porém, da grandeza da misericórdia de Deus, e do seu próprio arrependimento sincero, alegarão as Suas promessas, feitas por meio de Cristo, aos pecadores desamparados e arrependidos. A sua fé não faltará por não serem as suas orações respondidas imediatamente. Apoderar-se-ão da força de Deus, assim como Jacob lançou mão do Anjo; e a expressão da sua alma será: ‘Não te deixarei ir, se me não abençoares’.

«Se Jacob não se houvesse arrependido previamente do pecado de obter a primogenitura pela fraude, Deus não poderia ter ouvido a sua oração e misericordiosamente preservado a sua vida. Assim, no tempo de angústia, se o povo de Deus houvesse de ter pecados não confessados, para aparecerem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, abater-se-iam; o desespero lhes cortaria a fé, e não poderiam ter confiança para pleitearem com Deus o seu livramento. Mas, conquanto tenham uma intuição profunda da sua indignidade, não terão faltas ocultas a revelar. Os seus pecados ter-se-ão obliterado pelo sangue expiatório de Cristo, e eles não os podem trazer à lembrança.» (Ibidem, pp. 200-202).

  1. Deus não Tolera o Mal

«Satanás leva muitos a crer que Deus não tomará em consideração a sua infidelidade nas menores coisas da vida; mas o Senhor mostra, no seu trato com Jacob, que Ele não pode, de maneira alguma, sancionar ou tolerar o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder os seus pecados, e permitem que eles permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados ou perdoados, serão vencidos por Satanás. Quanto mais exaltada for a sua profissão, e mais honrada a posição que ocupam, mais ofensiva é a sua conduta aos olhos de Deus, e mais certa a vitória do grande adversário.

«Contudo, a história de Jacob é uma segurança de que Deus não repelirá aqueles que foram atraídos ao pecado, mas que voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Foi pela entrega de si mesmo e por uma fé tranquilizadora que Jacob alcançou o que não conseguira ganhar com o conflito na sua própria força. Deus assim ensinou a Seu servo que o poder e a graça divina unicamente lhe poderiam dar a benção que ele desejava com ardor. De modo semelhante será com aqueles que vivem nos últimos dias. Ao rodearem-nos os perigos, e ao apoderar-se da alma o desespero, devem confiar unicamente nos méritos da obra expiatória. Nada podemos fazer de nós mesmos. Em toda a nossa desajudada indignidade, devemos confiar nos méritos do Salvador crucificado e ressuscitado. Ninguém jamais perecerá enquanto fizer isto. A lista longa e negra dos nossos delitos está diante dos olhos do Ser infinito. O registo é completo; nenhuma das nossas ofensas é esquecida. Aquele, porém, que ouviu os clamores dos Seus servos na antiguidade, ouvirá a oração da fé, e perdoará as nossas transgressões. Ele o prometeu, e cumprirá a Sua palavra.» (Ibidem, p. 202).


Conclusão


«Jacob prevaleceu porque foi perseverante e resoluto. A sua experiência testifica do poder da oração importuna. É agora que devemos aprender esta lição da oração que prevalece, de uma fé que não cede. As maiores vitórias da igreja de Cristo, ou do cristão em particular, não são as que são ganhas pelo talento ou educação, pela riqueza ou favor dos homens. São as vitórias ganhas na sala de audiência de Deus, quando uma fé cheia de ardor e agonia lança mão do braço forte da oração.

«Aqueles que não estiverem dispostos a abandonar todo o pecado e buscar fervorosamente a bênção de Deus, não a obterão. Mas todos os que lançarem mãos das promessas de Deus, como fez Jacob, e forem tão fervorosos e perseverantes como ele o foi, serão bem-sucedidos como ele. ‘E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça.’ (Lucas 18:7-8).» (Ibidem, p. 203).

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